O Mentecapto*
Thiago Satiro
Insólito, Incolor, Inodoro
A vida de uma praga terminada
Na tortura plasmática enforcada
No Aqueronte de Hades apavoro
Mão descarnada que toca minh'alma
Em um mieloma cerebral horrendo
Coberto de vermes por lá gemendo
Triste, o desembestado, espalma
O dragão mortífero ali destrói
Nebulosas mentais em mim corrói
Choram por aqueles que não me entendem
As insanas partes do mentecapto
Que aos poucos com os vermes me adapto
Nas cabeças dos que não se arrependem.
*(louco, idiota,fraco de espírito)
(Imagem da artista plástica e publicitária espanhola Alicia Martins Lopez)
domingo, 11 de maio de 2014
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
O sabor amargo do Vinho tinto - parte 2
O sabor amargo do Vinho
tinto - parte 2
Thiago Satiro Salvador
Virgílio pegou o telefone novamente, confiante, e ligou para
Célia. Dessa vez ele falou.
-Célia, er.....(soluços nervosos)....Célia....você gostaria
de sair comigo hoje à noite? Podemos tomar um bom vinho, colocarmos os assuntos
em dia e escutar uma música ao vivo. Um amigo meu estará tocando nesta noite em
um bar que se localiza na orla da Pampulha.
Célia aceitou o convite, afinal era normal eles encontrarem
para jogar conversa fora, embora, tivesse notado que Virgílio estava estranho
nos últimos dias. Estranho.... Isso
a deixava assustada.
Célia acabou retornando a ligação para Virgílio e perguntou
se poderia levar um amigo junto, com a desculpa de que ele estava muito
sozinho, e que tinha acabado de sair de um relacionamento complicado. Mas, na
verdade, ela queria apenas alguém que pudesse lhe defender, caso Virgílio agisse
com suas “estranhices”.
De tardinha, a campainha da casa de Célia tocou, era Bruno. Moreno
alto, cerca de 23 anos, bem arrumado, jovem. Abraçou a amiga, abriu a porta do
carro para ela, e foram para o barzinho encontrar com Virgílio.
Virgílio estava ansioso, sempre encontrara com a amiga, mas
agora era diferente. Ele tinha tomado iniciativa, e iria investir na amiga. Olhava
o relógio de 5 em 5 minutos.
Na mesa uma garrafa já quase vazia do vinho argentino Weinert Cabernet Sauvignon. Bebia para
se acalmar.
Célia e Bruno chegaram até a mesa que Virgílio estava. Célia
apresentou Bruno para Virgílio, e sentaram à mesa.
Silêncio entre eles. Virgílio olhava para Bruno com ódio.
Bruno era mais novo que Virgílio, era simpático e possuía um jeito jovial que
ele já perdera com o passar dos tempos. Estava com medo de ter perdido Célia
para Bruno.
O clima estava pesado.Célia já tinha notado que Virgílio
bebeu quase toda a garrafa do vinho antes deles chegaram....provavelmente já
estava sob os efeitos do álcool. Esta seria uma noite difícil.
continua ......
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Um pensamento!
Meio sem tempo, mas já com muitas idéias para continuar o conto!
Enquanto isso , fiquem com um pensamento meu!!
"Eu sou a ausência do existir!"
Thiago Satiro Salvador
Enquanto isso , fiquem com um pensamento meu!!
"Eu sou a ausência do existir!"
Thiago Satiro Salvador
quarta-feira, 11 de julho de 2012
O sabor amargo do vinho tinto - parte 1
Bem pessoal, para movimentar mais o blog, vou postar a primeira parte do meu conto! Espero que gostem!!
O sabor
amargo do Vinho tinto - parte 1
Thiago Satiro Salvador
Virgílio era arquiteto e tinha uma amiga chamada Célia. Célia era uma mulher maravilhosa, alta, de cabelos loiros, com o busto pequeno, mas estranhamente combinava com o seu corpo. Tinha 38 anos, mas não lhe davam mais do que uns.....27. Já Virgílio, deveria ter uns 33 anos, embora nunca falasse sua idade. Tinha medo de ser chamado de velho e em consequência disso a morte viesse mais cedo lhe fazer uma visita.
Eles eram muito amigos, desses de ir nos barzinhos da capital mineira tomar Chopp de vinho e comer uma porção de fritas com peito de frango grelhado.
Virgílio morava sozinho e possuía uma leve queda por Célia, embora tivesse medo de tentar investir em sua amiga. Tinha medo de perder a amizade. Amizade esta que se iniciara aos 12 anos de idade, quando Virgílio era vizinho de Célia.
Em uma tarde quente e movimentada, Virgílio decidido, ligou para Célia. Queria sair com ela. Queria muito. Mas não era um querer normal, como todas as outras vezes que ele ligara para ela. Virgílio queria Célia. Virgílio queria o corpo de Célia nu, junto com o dele. Célia atendeu o telefonema e só de ouvir a voz da amada, Virgílio ficou arrepiado. Ficou mudo, não sabia mais o que falar. Ela achando estranha a mudez no outro lado da linha, acabou por desligar o telefone. Tinha medo de ser uma daquelas ligações em que simulam o sequestro de algum parente.
Virgílio pegou o telefone novamente, confiante, e ligou para Célia, dessa vez ele falou com ela.
continua ......
terça-feira, 10 de julho de 2012
Anjos! Anjos! Anjos!
Anjos! Anjos! Anjos!
Hoje falaremos
de Anjos!!!!
Não, não é esse tipo de anjinho de luz, bondoso e divino.
Se bem que se fôssemos comparar a pessoa que vou falar com algum anjo, seria algo desse tipo:(heheheheheheh)
Mas então, hoje falarei um pouquinho de um autor que admiro muito! Lembro uma vez que meu antigo professor de literatura, disse que eu era filho de:
Augusto dos Anjos!!!
Tah, tudo bem que não sou tão pessimista quanto ele, mas sua literatura me traz grande inspiração!
Aí vai uma pequena Biografia desse cara que morreu muito novo, produziu pouco, mas o suficiente para marcar uma época , e influenciar vários autores!
Biografia:
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu no engenho Pau d'Arco, Paraíba. De uma família de donos de engenhos, assistiu à decadência da antiga estrutura latifundiária, substituída pelas grandes usinas. Seu pai, bacharel, foi quem lhe ensinou as primeiras letras. Quando estava no curso secundário, Augusto começou a mostrar uma saúde delicada e um sistema nervoso abalado.
Em 1903, iniciou os estudos na Faculdade de Direito do Recife onde teve contato com o trabalho "A Poesia Científica", do professor Martins Junior. Formado em 1907, preferiu não advogar e ensinar português. Casou-se, em 4 de julho de 1910, com Ester Fialho.
No mesmo ano, em consequência de desentendimento com o governador, foi afastado do cargo de professor do Liceu Paraibano, onde havia estudado. Resolveu então se mudar para o Rio de Janeiro, onde exerceu durante algum tempo o magistério. Lecionou geografia na Escola Normal, depois Instituto de Educação, e no Ginásio Nacional, depois Colégio Pedro II, sem conseguir ser efetivado como professor. Em 1911, morreu prematuramente seu primeiro filho.
Em fins de 1913 transferiu-se para Leopoldina, MG, por ter sido nomeado para o cargo de diretor de um grupo escolar. Morreu nessa cidade, vitimado pela pneumonia, com pouco mais de trinta anos. Ainda jovem, os sofrimentos físicos tinham-lhe dado um aspecto senil.
Quase toda a sua obra poética está no seu único livro "Eu", publicado em 1912. Apesar de praticamente ignorado a princípio, pelo público e pela crítica, a partir de 1919 o livro foi constantemente reeditado como "Eu e outros poemas".
Escrito em um momento de transição, pouco antes da virada modernista de 22, sua obra representa o sincretismo entre o parnasianismo e o simbolismo. No livro, Augusto dos Anjos faz da obsessão com o próprio "eu", o centro do seu pensamento. O egoísmo e angústia estão presentes ("Ai! Um urubu pousou na minha sorte"); assim como o ceticismo em relação ao amor ("Não sou capaz de amar mulher alguma, / Nem há mulher talvez capaz de amar-me").
O poeta aspira à morte e à anulação de sua pessoa, reduzindo a vida a combinações de elementos químicos, físicos e biológicos ("Eu, filho do carbono e do amoníaco,"). Tal materialismo o tornava amargo e pessimista ("Tome, doutor, essa tesoura e corte/ Minha singularíssima pessoa"). Contrapõe-se a inapetência para o prazer e um desejo de conhecer outros mundos, onde a força dos instintos não cerceie os vôos da alma ("Quero, arrancado das prisões carnais,/ Viver na luz dos astros imortais").
Fonte: http://educacao.uol.com.br/biografias/augusto-dos-anjos.jhtm
E agora, um Soneto feito por Augusto dos Anjos em homenagem ao seu filho nascido morto!
SONETO
Ao meu primeiro filho nascido morto com 7 meses incompletos. 2 fevereiro 1911.
Agregado infeliz de sangue e cal,
Fruto rubro de carne agonizante,
Filho da grande força fecundante
De minha brônzea trama neuronial,
Que poder embriológico fatal
Destruiu, com a sinergia de um gigante,
Em tua morfogênese de infante
A minha morfogênese ancestral?!
Porção de minha plásmica substância,
Em que lugar irás passar a infância,
Tragicamente anônimo, a feder?!
Ah! Possas tu dormir, feto esquecido,
Panteisticamente dissolvido
Na noumenalidade do NÃO SER!
sexta-feira, 6 de julho de 2012
Micro-conto a 3 cabeças!
Então, nesse mundo moderno, onde estamos em todos os momentos conectados nas redes sociais, acabamos por passar por várias experiencias diferentes, algumas boas, outras ruins.A partir disso,apenas uma pequena postagem no Twitter, pode virar um conto, na verdade um micro-conto.
O mais interessante disso tudo, é que , com as redes sociais, há uma interação maior entre as pessoas, e isso foi essencial para que fosse formado essa obra de arte que será apresentada aí embaixo.
Gostaria de agradecer pelo apoio e companhia da Virginia (@edfilhadalua on Twitter ,https://www.facebook.com/filhalua / http://edicoes-filhadalua.blogspot.com.br/) e pela participação especial da Luiza Buga!
O mais interessante disso tudo, é que , com as redes sociais, há uma interação maior entre as pessoas, e isso foi essencial para que fosse formado essa obra de arte que será apresentada aí embaixo.
Gostaria de agradecer pelo apoio e companhia da Virginia (@edfilhadalua on Twitter ,https://www.facebook.com/filhalua / http://edicoes-filhadalua.blogspot.com.br/) e pela participação especial da Luiza Buga!
Despedida
Thiago Satiro, Virginia Cunha, Luiza Buga
Um dia!
Um adeus!
Uma voz!
Uma Lágrima...
Um Café por favor....
Um Wiskhy por favor....
A conta!
Despedida
Thiago Satiro, Virginia Cunha, Luiza Buga
Um dia!
Um adeus!
Uma voz!
Uma Lágrima...
Um Café por favor....
Um Wiskhy por favor....
A conta!
Ele me bebeu
Enquanto meu conto ainda não fica pronto, hoje trago para vocês um conto Maravilhoso, Moderno e Ousado para a época em que foi feito. Trata-se de um triângulo vivido pelos amigos Serjoca e Aurélia Nascimento e um metalúrgico, escrito pela maravilhosa Clarice Lispector!
(Postarei o conto na íntegra, e também o aúdio para os que preferirem ouvir tal conto narrado pela maravilhosa e espetacular atriz Aracy Balabanian !)
Link para o aúdio:
http://www.youtube.com/watch?v=EQGcCjVz2u4
(Postarei o conto na íntegra, e também o aúdio para os que preferirem ouvir tal conto narrado pela maravilhosa e espetacular atriz Aracy Balabanian !)
Link para o aúdio:
http://www.youtube.com/watch?v=EQGcCjVz2u4
Ele me bebeu
Clarice Lispector
É. Aconteceu
mesmo.
Serjoca era
maquilador de mulheres. Mas não queria nada com mulheres. Queria homens.
E maquilava
Aurélia Nascimento. Aurélia era bonita e, maquilada, ficava deslumbrante. Era
loura, usava peruca e cílios postiços. Ficaram amigos. Saíam juntos, essa coisa
de ir jantar em boates.
Todas as
vezes que Aurélia queria ficar linda ligava para Serjoca. Serjoca também era
bonito. Era magro e alto.
E assim
corriam as coisas. Um telefonema e marcavam encontro. Ela se vestia bem, era
caprichada. Usava lentes de contato. E seios postiços. Mas os seus mesmos era
lindos, pontudos. Só usava os postiços porque tinha pouco busto. Sua boca era
um botão de vermelha rosa. E os dentes grandes, brancos.
Um dia, às
seis horas da tarde, na hora do pior trânsito, Aurélia e Serjoca estavam em pé
junto do Copacabana Palace e esperavam inutilmente um táxi. Serjoca, de
cansaço, encostara-se numa árvore. Aurélia impaciente. Sugeriu que dessem ao
porteiro dez cruzeiros para que ele lhes arranjasse uma condução. Serjoca
negou: era duro para soltar dinheiro.
Eram quase
sete horas. Escurecia. O que fazer?
Perto deles
estava Affonso Carvalho. Industrial de metalurgia. Esperava o seu Mercedes com
chofer. Fazia calor, o carro era refrigerado, tinha telefone e geladeira.
Affonso fizera quarenta anos no dia anterior.
Viu a
impaciência de Aurélia que batia com os pés na calçada. Interessante essa
mulher, pensou Affonso. E quer carro. Dirigiu-se a ela:
- A
senhorita está achando dificuldade de condução?
- Estou aqui
desde as seis horas e nada de um táxi passar e nos pegar! Já não agüento mais.
- Meu chofer
vem daqui a pouco, disse Affonso. Posso levá-los a alguma parte?
- Eu lhe
agradeceria muito, inclusive porque estou com dor no pé.
Mas não
disse que tinha calos. Escondeu o defeito. Estava maquiladíssima e olhou com
desejo o homem. Serjoca muito calado.
Afinal veio
o chofer, desceu, abriu a porta do carro. Entraram os três. Ela na frente, ao
lado do chofer, os dois atrás. Tirou discretamente o sapato e suspirou de
alívio.
- Para onde
vocês querem ir?
- Não temos
propriamente destino, disse Aurélia cada vez mais acesa pela cara máscula de
Affonso.
Ele disse:
- E se
fôssemos ao Number One tomar um drinque?
- Eu
adoraria, disse Aurélia. Você não gostaria, Serjoca?
- É claro,
preciso de uma bebida forte.
Então foram
para a boate, a essa hora quase vazia. E conversaram. Affonso falou de
metalurgia. Os outros dois não entendiam nada. Mas fingiam entender. Era tedioso.
Mas Affonso estava entusiasmado e, embaixo da mesa, encostou o pé no pé de
Aurélia. Justo no pé que tinha calo. Ela correspondeu, excitada. Aí Affonso
disse:
- E se
fôssemos jantar na minha casa? Tenho hoje escargots e
frango com trufas. Que tal?
- Estou
esfaimada.
E Serjoca
mudo. Estava também aceso por Affonso.
O
apartamento era atapetado de branco e lá havia escultura de Bruno Giorgi.
Sentaram-se, tomaram outro drinque e foram para a sala de jantar. Mesa de
jacarandá. Garçom servindo à esquerda. Serjoca não sabia comer escargots e atrapalhou-se todo com os talheres
especiais. Não gostou. Mas Aurélia gostou muito, se bem que tivesse medo de ter
hálito de alho. Mas beberam champanha francesa durante o jantar todo. Ninguém
quis sobremesa, queriam apenas café.
E foram para
a sala. Aí Serjoca se animou. E começou a falar que não acabava mais. Lançava
olhos lânguidos para o industrial. Este ficou espantado com a eloqüência do
rapaz bonito. No dia seguinte telefonaria para Aurélia para lhe dizer: o
Serjoca é um amor de pessoa.
E marcaram
novo encontro. Destava vez num restaurante, o Albamar. Comeram ostras para
comerçar. De novo Serjoca teve dificuldade de comer as ostras. Sou um errado,
pensou.
mas antes de
se encontrarem, Aurélia telefonou para Serjoca: precisava de maquilagem
urgente. Ele foi à sua casa.
Então,
enquanto era maquilada, pensou: Serjoca está me tirando o rosto.
A impressão
era que ele apagava os seus traços: vazia, uma cara só de carne. Carne morena.
Sentiu
mal-estar. Pediu licença e foi ao banheiro para se olhar ao espelho. Era isso
mesmo que ela imaginara: Serjoca tinha anulado o seu rosto. Mesmo os ossos - e
tinha uma ossatura espetacular - mesmo os ossos tinham desaparecido. Ele está
me bebendo, pensou, ele vai me destruir. E é por causa do Affonso.
Voltou sem
graça. No restaurante quase não falou. Affonso falava mais com Serjoca, mal
olhava para Aurélia: estava interessado no rapaz.
Enfim, enfim
acabou o almoço.
Serjoca
marcou encontro com Affonso para de noite, Aurélia disse que não podia ir,
estava cansada. Era mentira: não ia porque não tinha cara para mostrar.
Chegou em
casa, tomou um banho de imersão com espuma, ficou pensando: daqui a pouco ele
me tira o corpo também. O que fazer para recuperar o que fora seu? A sua
individualidade?
Saiu da
banheira pensativa. Enxugou-se com uma toalha enorme, vermelha. Sempre
pensativa. Pesou-se na balança: estava com bom peso. Daí a pouco ele me tira
também o peso, pensou.
Foi ao
espelho. Olhou-se profundamente. Mas ela não era mais nada.
- Então - então
de súbito deu uma bruta bofetada no lado esquerdo do rosto. Para se acordar.
Ficou parada olhando-se. E, como se não bastasse, deu mais duas bofetadas na
cara. Para encontrar-se.
E realmente
aconteceu.
No espelho
viu enfim um rosto humano, triste, delicado. Ela era Aurélia Nascimento.
Acabara de nascer. Nas-ci-men-to.
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